Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)
A tarefa de cuidar e melhorar o mundo para as futuras gerações, requer de todos mudanças profundas nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que regem a sociedade. Trata-se de uma tarefa que exige bom senso, determinação e coragem.
A tradição bíblica ensina a ver o ser humano como protagonista de um processo no qual ele é receptor de favores e sujeito ativo de decisões que determinam o sentido de seu próprio ser. Ele é destinado a cuidar do meio ambiente. O cuidado é o suporte vital da liberdade, da inteligência e da criatividade. No desenvolvimento da obra do cuidado é possível colher os princípios, os valores e as atitudes que proporcionam o conviver e o bem-viver.
A Casa Comum, com tudo aquilo que ela oferece generosamente para uma vida digna para todos, clama por cuidado. Cuidado para com as pessoas, culturas, biomas, plantas, águas, ar, animais, enfim, cuidado com a Terra.
A sociedade moderna consome grande quantidade de energia. Os combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, têm sido a grande fonte de energia para suprir as necessidades da indústria.
Há sérias razões para buscar fontes alternativas de energia. O carvão mineral, por exemplo, é altamente poluente. Prejudica o meio ambiente desde a sua extração até a produção de seus subprodutos. É uma fonte de energia não renovável. O processo de sua combustão provoca emissão de gases poluentes na atmosfera, agravando o efeito estufa.Está em discussão a exploração de carvão mineral às margens do Rio Jacuí, na região de Eldorado do Sul e às portas da cidade de Porto Alegre.
Existem sérias objeções a respeito dessa iniciativa. Riscos de contaminação do solo, do ar e da água são reais. O viés econômico não pode ser o único critério para determinar a exploração ou não da mina. Certamente os avanços tecnológicos oferecem possibilidade de operações sempre mais confiáveis. Contudo há sempre uma conta ambiental a ser paga, além do impacto sobre a natureza e a saúde das pessoas que moram na região para usufruir de possíveis e questionáveis ganhos econômicos. Total segurança é algo impossível. Ninguém de bom senso é capaz de afirmar com absoluta segurança que a exploração é ambientalmente segura.
O cuidado promove e salva a vida. Nosso dever comum é dela cuidar e promover.
Artigo publicado no Jornal do Comércio