Trabalho em locais subterrâneos e aglomerados favorece surtos de doenças respiratórias
Contaminações pelo novo coronavírus estão aumentando em minas de carvão em todo o mundo. Embora os dados sobre surtos não tenham sido disponibilizados de maneira transparente e sistemática, o Global Energy Monitor documentou mais de uma dúzia de minas com surtos confirmados desde o final de março. A necessidade de trabalhar em ambientes apertados ou subterrâneos é apontada como condição crítica para o espalhamento da doença entre os trabalhadores.
Os casos foram verificados na Polônia, República Tcheca, Turquia, Índia, EUA e Rússia. A maioria dos casos foi relatada na Polônia (16% do total de casos no país) e na República Tcheca – as duas nações somam quase 4 mil casos. Já os países com o maior número minas de carvão subterrâneas – China, Índia e Estados Unidos – forneceram muito pouca informação sobre a prevalência da doença nesses locais.
“Por mais alarmantes que sejam os muitos casos que já estamos vendo, é provável que seja apenas a ponta do iceberg, devido a uma cultura de sigilo que assola a indústria: sete milhões de pessoas trabalham em minas de carvão em todo o mundo, mais da metade no subsolo”, explica Ted Nace, diretor executivo do Global Energy Monitor. “As empresas de mineração de carvão devem adotar imediatamente uma postura de transparência”, declara.
Em todo o mundo, mineradores de carvão e sindicatos passaram a protestar publicamente contra o risco de exposição à doença. Esses trabalhadores têm maior incidência de doenças respiratórias em relação à população geral. No caso específico da COVID-19, o setor de mineração não tem divulgado a extensão dos testes realizados nesse grupo, dificultando a modelagem das taxas de transmissão. As minas de carvão continuaram a operar como atividades essenciais em muitas partes do mundo durante a crise do novo coronavirus, escapando de bloqueios nacionais, os chamados lockdowns.
Os primeiros casos de COVID-19 em minas de carvão foram relatados em 30 de março, quando dois mineiros da companhia Bailey Mine da Consol Energy Inc. na Pensilvânia, EUA, testarem positivo para a doença. Desde então, operadores nos Estados Unidos passaram a implementar quarentenas e bloqueios para minimizar a exposição, decisão também adotada na Índia. Na Turquia, o governo proibiu viagens à província da mina de Zonguldak devido ao alto número de casos na região.
“Os mineiros de carvão lutam há gerações para proteger sua saúde e segurança no trabalho e esses trabalhadores merecem relatórios transparentes sobre os surtos de COVID-19”, afirma Ryan Driskell Tate, analista de pesquisa no Global Energy Monitor. “Vimos na Polônia e na República Tcheca que as minas de carvão estão na iminência para se tornarem focos de coronavírus. Como os cientistas pedem mais testes e rastreamento de contatos para impedir a propagação do vírus, é imperativo que as empresas de carvão e as agências reguladoras mantenham o público informado sobre o que está acontecendo nesses locais de trabalho e nas comunidades”, completa.
O Global Energy Monitor é um think-tank sediado nos EUA, sem fins lucrativos e que desenvolve pesquisas sobre combustíveis fósseis em todo o mundo. Por meio da plataforma Global Tracker (GCPT), a entidade produz dados do setor que são usados por organismos multilaterais como a Agência Internacional de Energia (AIE), a Diretoria de Meio Ambiente da OCDE, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Banco Mundial, além do Departamento do Tesouro dos EUA.
Os impactos do COVID-19 nas minas de carvão continuarão sendo rastreados aqui: http://www.gem.wiki/Coal_Mine_Impacts_from_COVID-19.
As informações produzidas pela entidade são licenciadas pela Bloomberg LP e UBS Evidence Lab e são usados pela Economist Intelligence Unit e pela Bloomberg New Energy Finance.
Informações detalhadas: surtos de COVID-19 em minas de carvão
# 1 POLÔNIA
No final de abril, a maior mineradora estatal de carvão da Polônia, a Polska Grupa Górnicza (PGG), suspendeu operações em três minas de carvão devido à disseminação de COVID-19 entre seus trabalhadores: na mina de Jankowice, 204 mineiros testaram positivo; na mina de Sośnica, 53; e na mina Murcki-Staszic, foram 38 casos.
Outra estatal de carvão, a JSW SA, relatou 1.648 casos confirmados entre funcionários nas minas de Pniowek, Jastrzębie-Bzie, Budryk e Borynia-Zofiówka. Devido à rápida disseminação de casos, o governo polonês anunciou em 7 de maio que passaria a testar mil mineiros por dia em sistemas de drive-through. Em 26 de maio, cerca de 3.640 mineiros de carvão e membros de suas famílias já tinham contraído o vírus, compreendendo cerca de 16% dos casos do país.
# 2 REPÚBLICA CHECA
Em 19 de maio, um surto de casos na mina de Darkov, perto da cidade de Karvina, foi responsável pelo registro diário de casos de COVID-19 na República Tcheca. Inicialmente 139 mineiros de carvão testaram positivo, e o número subiu para mais de 212 após a realização sistemática de testes nos trabalhadores e suas famílias. A empresa OKD, que opera a mina, suspendeu as atividades e pediu assistência dos médicos do exército tcheco.
# 3 ESTADOS UNIDOS
Em 30 de março, a mineradora Bailey Mine da Consol Energy Inc., na Pensilvânia, suspendeu as atividades após dois trabalhadores terem testado positivo para COVID-19. No mesmo dia, cinco mineradoras de carvão da Virgínia interromperam as operações para impedir a propagação de coronavírus entre os trabalhadores, nas minas de Buchanan No.1, Osaka, Pombo Creek, North Fork e D-31.
Em 21 de abril, a mina Arch Coal Inc.’s West Elk, no Colorado informou ter quatro funcionários infectados, e no Alabama, duas minas também registraram casos em abril (Peabody Energy’s Shoal Creek e Warrior Met Coal’s, mina número 7).
Em maio, a Administração de Saúde e Segurança de Minas dos EUA (Mine Safety and
Health Administration) anunciou que estava coletando dados sobre as taxas de infecções por COVID-19 em minas de carvão do país. Antes, em abril, funcionários da entidade disseram a imprensa que as planilhas com informações sobre a COVID-19 no setor seriam mantidas sob sigilo. Até o momento, nenhum número foi divulgado oficialmente.
# 4 ÍNDIA
Em 2 de abril, a mineradora Singareni Collieries Company Limited (SCCL) demitiu seus mineiros subterrâneos no estado de Telangana, na Índia, para mitigar a disseminação do COVID-19. Os dados do Global Energy Monitor indicam que a empresa opera duas dezenas de minas subterrâneas no estado e produz 27 milhões de toneladas de carvão por ano. De acordo com Miriyala Raji Reddy, líder sindical, cerca de 2.000 mineiros estavam envolvidos em operações subterrâneas no momento das demissões. Em 3 de abril, a Coalfields do Sudeste Limited, maior produtora de carvão do país, ordenou que 83 funcionários ficassem em quarentena depois de terem participado de uma cerimônia religiosa em que foram expostos a um portador do vírus.
# 5 TURQUIA
Em abril, o Presidente Recep Tayyip Erdoga incluiu a região mineira de Zonguldak no rol de proibições de viagens interurbanas e impôs um toque de recolher de fim de semana devido à “prevalência de doenças pulmonares” na região. Zonguldak, maior produtora de carvão metalúrgico na Turquia, relatou 463 casos COVID-19.
Fonte: ClimaInfo