A mina, inativada no começo dos anos de 1990, altera a cor e o odor da água até hoje
Moradores da comunidade do Rio Carvão, em Urussanga, no sul de Santa Catarina, pediram que as autoridades tomem providências para recuperar os danos ambientais provocados por uma mina de carvão desativada. Recentemente, o assunto foi tema de audiência pública realizada pela Comissão de Turismo e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, na Sociedade Recreativa Urussanga.
Conforme o presidente da Associação Comunitária Rio Carvão (ACRIC), Sidnei Casagrande, a mina, que foi desativada no começo dos anos de 1990, solta água branca e mau cheirosa. Ele pediu que o local seja tampado. “Gostaria que as empresas de carvão mudassem a mentalidade de só tirar as riquezas. Peço o esforço de todos para que as mineradoras se comprometam em fazer essa recuperação”, disse. “Não somos contra as empresas, somos contra a poluição”.
O procurador do Ministério Público Federal (MPF) em Criciúma, Demerval Ribeiro Viana Filho, afirmou que, desde 2000, já há uma decisão da Justiça Federal que obriga as empresas carboníferas a recuperarem mais de 26,5 mil hectares de áreas superficiais e de subsolo. Só em bocas de mina, são mais de 800 decisões em toda a região sul catarinense.
Além disso, há a contaminação dos rios. Conforme o procurador, são mais de 1,2 mil quilômetros de rios impactados nas bacias do Urussanga, Araranguá e Tubarão. Em 800 quilômetros, o pH está abaixo de quatro, o que impede qualquer tipo de vida nas águas. Para ele, há uma morosidade excessiva na recuperação desse passivo ambiental. “Esses rios continuam poluídos. Algumas empresas faliram, isso atrasou o cronograma de recuperação, porque o governo federal teve que assumir essa responsabilidade com dificuldades de orçamento. Infelizmente não vemos resultados efetivos”, afirmou o procurador Viana Junior. “Sabemos que a indústria passa por dificuldades, mas temos um bem [a água] que é de interesse da coletividade. Não dá para prensar as empresas contra a parede, mas não podemos passar a mão na cabeça”.
O diretor do Sindicato das Indústrias da Extração de Carvão Mineral, Marcio José Cabral, afirmou que é preciso estabelecer uma relação de confiança entre a comunidade e a indústria na busca pelas ações de recuperação ambiental, sem que haja o comprometimento econômico do setor. “As empresas querem recuperar e a comunidade não quer que os empregos acabem, não quer que mais de R$ 1,5 bilhão que circula na economia por ano vá embora da região”, disse Cabral. “Essa audiência pública deve abrir canal de diálogo para construir essa relação de confiança. Ninguém gosta de ver aquelas áreas degradadas, mas a solução só haverá se o dinheiro continuar entrando”.
Atualmente, segundo o diretor, são seis indústrias carboníferas que geram 3 mil empregos diretos, além de outros 750 empregos na ferrovia Tereza Cristina, por onde é escoada a produção, destinada para a geração de eletricidade no Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo.
Proponente da audiência pública e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alesc, o deputado Ivan Naatz classificou como grave o problema de contaminação ambiental causado pelas minas desativadas. Ele afirmou que fará uma reunião com MPF, sindicato das indústrias de carvão, Prefeitura de Urussanga, Câmara de Vereadores, Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina e Ministério de Minas e Energia para tratar exclusivamente da questão ambiental do Rio Carvão. “Vamos verificar as técnicas disponíveis para a recuperação e cobrar o governo federal para acelerar esse processo de recuperação dos danos ambientais”, afirmou o deputado. “Também vamos colocar os órgãos ambientais da União a par dessa situação. Queremos fazer uma nova audiência pública daqui a alguns meses para verificar como essa questão evoluiu”.